12 outubro 2009

A egrégora da solidão

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Do grego egrégoroi, costuma-se definir egrégora como a somatória das intenções individuais, a força acumulada de vários indivíduos, todas aprumadas a um objetivo comum. Quando mais forte for a intenção dos indivíduos, maior será a egrégora gerada.

Quando há, por exemplo, um jogo de futebol, todos os torcedores de um time constróem uma egrégora, que disputa com a da torcida do outro time.
Esta egrégora criada proporciona a sensação de poder aos indivíduos, que conseguem tomar decisões que não seriam feitas se estivesse sozinho.
Imerso no coletivo, oculto no anonimato, fortalecido pelo respaldo dos aliados, não teme a responsabilidade exclusiva pelos atos e, enebriado, deixa-se levar pela tendência de comportamento da maioria.

Quando consciente desta capacidade de intenção do coletivo, o asceta consegue alinhar-se à egrégora já estabelecida, e dela obter força de vontade e a determinação necessárias para cumprir os objetivos almejados, consegue superar a resistência do ego, alçando a horizontes superiores aos que, sozinho, chegaria.

É nativo da espécie humana agrupar-se com os que compartilham afinidades, seja por motivos de sobrevivência, seja por questões ideológicas, culturais, sociais, espirituais, ou outras. Deste padrão derivaram as mais diversas culturas, as tribos, as civilizações.

No entanto, as circunstâncias comportamentais da atual socidade global fragmentam e isolam as intenções, privilegiam a exclusiva vontade individual, eudemônica, é cada vez mais valorizada a "autenticidade", como ferramenta de posicionamento em um mundo hedonista, inquestionavelmente estabelecido.

O cidadão, isolado, busca apoio no círculo afetivo mais próximo, mas confronta-se com seus semelhantes também acometidos pelas mesmas patologias. Integra o paradoxal grupo dos solitários, cegos guiando outros cegos. Encontra sua essência em uma espiral de angústia e solidão, onde o alívio só é alcançado na satisfação efêmera dos desejos que, uma vez atendidos, desvanece-se, retornando ao tormento inicial.

Está sendo construída - e consumida - a aldeia global, refletida em um espelho estilhaçado.

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